
Hoje me levantei cedo e dei-me o gosto de inventar um problema para me lamentar.
Ai Deus, pobre de mim...valei-me todos os anjos e santos...
O dia não colaborava com minha decisão de arranjar um problema para me lamentar. Uma revoada de pássaros desenhou no céu tal qual uma esquadrilha em festa. O sol pintou as nuvens brancas e sem graça de amarelo gema. Um cachorro saltitou na frente em plena rua começando a alvoroçar de transeuntes. Realmente o dia não colaborava com esse meu gosto de inventar um problema para me lamentar.
Pensei comigo, acho que vou sentir um desgosto qualquer para resolver esse meu gosto de inventar um problema para me maldizer, mas não adiantou. As mal amadas passaram sorrindo. Cantando seguiu o guarda como a dançar pelas calçadas. Calçadas que por sinal pareciam limpas e restauradas pela Prefeitura. O ônibus não atrasou e passou semivazio. O pãozinho da padaria estava estalando de fresquinho e torrado. As crianças cumprimentavam os mais velhos com muita cerimônia e respeito.
Mas assim não dá. Falei entre dentes. Será possível que até arranjar um problema para se lamentar está difícil hoje?
Era tudo mamão com açúcar. Belezinha.
De longe vi uma mãe apontado com o dedo a disciplinar uma criança. Am Ram! Era lá que eu ia arranjar o tal problema. Corri para mais perto dos dois. Que decepção, a mamãezinha cantava canções com a criança e brincava alegremente de pega- pega.
Será possível que hoje não é o meu dia?
Acho que vou arranjar um problema em mim mesmo. Olhei-me, estou gorda, estou gorda, estou velha, estou com estrias, estou burra...
Passou alguém e gritou e altos brados quanto eu estava bem, cada dia mais jovem e que adorava as coisas que eu escrevo.
Abandonei a idéia de achar um problema em mim.
A manhã voou. A tarde passou. A noite chegou mansinha mansinha e me pegou desarvorada atrás de um problema o qual me satisfizesse.
Quando deitei minha cabeça no travesseiro, não consegui dormir de tanto que minha cabeça fervilhava. Que problema!
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